terça-feira, 20 de janeiro de 2015


SOBRE A LIBERDADE
 Marla de Queiroz
 

Impor limites não é uma estratégia, não é uma falta de liberdade, é uma libertação.
Não há mal nenhum em saber dizer que a gente só pode, por enquanto, ir até aquele determinado ponto. Isso é de um profundo respeito por todo o mundo.
Quem sabe impor limites aprendeu a dizer um “não” sincero, em vez de dizer “sim” e depois fugir aflito deixando alguém num deserto de dúvidas sobre o que possa ter acontecido.
Quem aprendeu a impor limites, aprendeu também a não se magoar com os nãos sinceros que recebeu, mas a agradecê-los.
Quem acha que ser livre é não ter limites, acaba sendo escravo de um comportamento, de um vício, de uma alegria, de uma convicção, de um relacionamento que não se pontua nunca. Isto é limitador.
Ser livre é saber estabelecer limites dentro daquele contexto e ainda assim poder olhar para o mundo e para si próprio com uma visão ilimitada: quem aprende a impor limites, talvez aprenda a compreender delimitações, as deficiências alheias e as próprias. E quando seria uma situação de mágoa, sabe que por mais que lhe pareça desagradável a atitude do Outro, é o seu limite, o que não o reduz a ele.

Ontem comecei uma pintura abstrata numa caixa de papelão. A ideia era deixar a mão fluir em liberdade para criar. Fiz os contornos em preto com toda a fluidez da minha imaginação. Em determinado momento, senti vontade de preencher com cores os espaços demarcados. E descobri: eu não queria que o meu verde invadisse o roxo, mudaria absolutamente a cor. Eu queria exatamente aquilo: as duas cores próximas, em harmonia, mas com o traço preto delimitando seus espaços para que todos pudessem se sobressair em sua peculiaridade e para que, no coletivo, brilhassem juntos. E para isso, eu precisei criar barreiras para impossibilitar as cores de se misturarem.

Pintando a minha caixa de papelão. eu descobri que estabelecer os meus limites fazia parte daquele meu momento da mais total liberdade de expressão.

 


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